Desejo incontrolavel

Incondicional amor materno
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Queria matar uma pessoa. Sonhava em enfiar uma faca na barriga de alguém, sentir a pessoa estrebuchando, ouvir seu último gemido, arrancar seus olhos; desejava esmagá-los como se fossem jaboticabas. Durante quase três anos, exatos trinta e quatro meses e sete dias, vivi essa tentação, essa loucura, essa vontade incontida de gozar a morte de alguém. Não passava um dia que a obsessão não aumentasse. Só me faltava coragem. Eu não cometia o crime por um simples e singelo motivo, eu não suportaria o peso de dar algum desgosto a minha mãe: mulher que me amou, mulher que viveu por mim. Certamente me sentiria o pior dos crápulas se soubesse que a decepcionei, me sentiria o pior dos canalhas se a magoasse. Enquanto a presença desse amor me causava desconforto e me enlouquecia, a vontade de esfaquear e o desejo incontrolável de matar me atormentavam e me impediam de viver. Não tive outra escolha, juro que não tive, fui obrigado a matar mamãe para conseguir viver com tranquilidade, para não ter remorsos, para ter paz na alma, para tentar ser feliz. Foram dezessete facadas antes de rasgar seu ventre e arrancar o pequeno útero onde morei. Ali eu reencontrei a beleza da vida. Os olhos esmagados eu guardo num copo com álcool, eles parecem ainda manter o olhar de espanto e admiração do momento em que enfiei a primeira facada. Como é confortante o olhar materno, como é bom ter esses olhos ao meu lado na hora de dormir. Essa noite eu pensei em jogar um pouco de mel sobre eles, quem sabe eles não fiquem ainda mais doces.