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Fantasias obsessivas...

...realidades perversas e arte visceral
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Saiu na Times a lista dos 200 artistas mais importantes do século XX, é uma bobagem. Quase todas as listas desse tipo são bobagens; essa não é diferente e nela estão os de sempre, numerados em ordem decrescente. Não entendo patavina de pintura, mas ainda assim repito o que diz o Óbvio: nada de Picasso, nada de Cezánne, Monet ou Duchamp, o grande artista do século passado é o Chico Toucinho. Ele mesmo, aquele irlandês que os gringos ainda não desaprenderam a chamar de Francis Bacon. A genialidade do sujeito é de doer nas retinas, Bacon é a mais grandiosa expressão das dores, das paixões, das misérias e das agruras humanas. Não é arte para meninas sensíveis, Bacon se mutila e se expõe esquartejado em telas distorcidas e repletas de sofrimentos, anomalias e deformações. É assustador, é visceral, é apaixonante! Violência, erotismo, masoquismo e pedofilia se misturam em fantasias obsessivas regadas com lágrimas, sangue e esperma; suas imagens desoladoras são expressões das maiores perversões mentais e dos piores pesadelos do homem fragilizado que cresceu sendo chicoteado pelo pai e maltratado pela babá que o trancava no armário. Chico, que nasceu há exatos cem anos, costumava dizer que gostaria que suas pinturas dessem a impressão de que um ser humano passou por dentro delas, como uma lesma, deixando o rastro de sua presença e resquícios da memória de eventos passados, assim como a lesma deixa rastros de sua baba. Certamente ele conseguiu... E como conseguiu!



A bunda redentora
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A pessoa mais influente na cultura brasileira é uma mulher, ou pelo menos uma parte dela. A bunda da Gretchen fez mais pela cultura do país do que o movimento modernista. Sempre odiei a tal rainha do rebolado, mas reconheço: Melô do piripiri e Conga la conga são mais influentes que toda a obra de Machado de Assis. Ela é a matrona da Academia Brasileira de Bundas, é a precursora e musa das cachorras, das popozudas, das preparadas... do baile todo. Há trinta anos Maria Odete virou Gretchen e nesse momento começou o fenômeno da mutação genética que hoje transforma moçoilas pobres em mulheres-fruta. Ela educou e transformou pelo exemplo; é a mulher burra e metida a gostosa pronta para ser consumida, sem culpas e sem pecados. As mulheres queriam imitá-la. Os homens queriam consumi-la. No fim desse mês a rainha decadente vai comemorar seu aniversário cantando e rebolando num puteiro de Araraquara. É uma pena! O país não reconhece seus heróis! Gretchen deveria ser oficializada como um dos símbolos da pátria, e digo mais: em sua homenagem, o governo deveria derrubar o Cristo Redentor e construir naquele mesmo lugar um gigantesco monumento: a bunda redentora!






A mulher mais influente do século.
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Se perguntarem ao meu amigo Nikki quem é a mulher mais influente do século XX ele certamente responderá: é a Barbie! Ele pode estar certo! A boneca, que completou seus 50 anos, é mais que um ícone, é um modelo de mulher; é a estrela maior de várias gerações. Barbie foi criada pelo engenheiro que desenhou os mísseis Hawk e Sparrow. O mesmo Jack Ryan que projetava armas de guerra criou o brinquedo que fantasiou novas realidades e mudou o mundo das nossas fantasias. Depois da criação, a história: as bonecas viraram mulheres, as meninas cresceram e as mulheres desejaram ser bonecas. Com a Barbie, pela primeira vez, o corpo feminino adulto virou brinquedo infantil e as meninas puderam criar novas possibilidades de brincar de ser mulher. Não qualquer mulher. Barbie é a mulher moderna, é prafrentex como dizia minha vó, mas é também a mulher mais que perfeita, é o corpo das medidas irreais... É a representação de um novo padrão e um novo sonho de beleza; tanto impossível quanto frustrante! Depois dela, o corpo é tudo, é a identidade e a razão de ser: as mulheres querem ser brancas, eternamente jovens e magras, ter cabelos lisos e loiros, cintura fina e peitos de plástico... Enfim, querem ser como as bonecas da Mattel.