Jornalismo bobagem, show dos milhões

Jornalismo bobagem, show dos milhões
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Organize uma festa para um grupo de quinze ou vinte pessoas, as mais próximas, os melhores amigos. Marque o dia, a hora e o local e mande os convites. É bem provável que alguns não apareçam, o motivo não importa, alguém pode estar doente, indisposto, pode ter sofrido um trauma ou estar viajando, talvez tenha que trabalhar ou tenha algum compromisso inadiável. Isso sempre acontece, menos nas festas com cobertura da imprensa, nessas nunca falta ninguém. Eles dizem que no réveillon da Paulista haverá dois milhões de pessoas e, touché, no dia seguinte a notícia será: dois milhões de pessoas festejam a chegada do ano na Paulista. Mais de dois milhões estarão em Copacabana, extraordinário, faça chuva ou faça Sol não vai faltar ninguém! Na Parada Gay ou na Marcha para Jesus a cada ano surgem 500 mil novas almas, em breve teremos 300 bilhões de pessoas. Qualquer idiota, que não seja jornalista sabe que é impossível colocar sequer meio milhão de pessoas na avenida, qualquer moleque que conheça um mínimo de estatística pode provar isso, mas certos jornalistas parecem ser idiotas de outra espécie. Jornalistas costumam ser analfabetos quando se trata de números, mas o problema não é esse, antes fosse. Notícias como essas existem porque há interesses por trás e mesmo as bestas que não ganham nada reproduzem os números, ás vezes por cumplicidade, às vezes por ignorância, não tem desculpa, quem informa deve conhecer o que informa, deve checar a informação, deve buscar a verdade... se não fazem isso nas questões mais simples imagine naquelas em que é necessário correr riscos ou usar o cérebro.





Imagem: Henry Cartier-Bresson