Meus dois talentos
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Não
sou dessas pessoas que assistem diversas vezes a um mesmo filme, na maioria das
vezes tenho dificuldade para me concentrar o suficiente para chegar ao final de
um filme médio. Foi por motivos profissionais que assisti Preciosa: uma
história de esperança por mais de meia dúzia de vezes e por conta disso tenho na
cabeça algumas de suas cenas; lembro a voz da professora perguntando a suas
alunas: 'o que você faz bem? Todo mundo é bom em alguma coisa'. Sim, desde que
crianças tentamos ser bons em algumas coisas e, por vezes, desejamos descobrir
que somos ou poderemos ser bons em algo. Tenho dois talentos: titubeio e
procrastino, sou bom nisso, bom titubeante e procrastinador. Sei que em geral
as pessoas não vêem isso como qualidade, o que, em minha defesa, tenho que
contestar: titubeia aquele que carrega mais dúvidas que certeza e, como é de
conhecimento geral, isso se não é virtude ao menos trouxe menos prejuízos para
a história da humanidade do que do que homens com certezas. A certeza sim é um
mal, Hitler e Pol Pot tinham as suas, todo fanático tem suas certezas e aqueles
que querem impor suas verdades a outros jamais questionam, duvidam ou se sentem
indecisos; esses também não costumam adiar seus atos, não deixam pra depois. Sim,
eu procrastino! Não apenas como conseqüência, óbvia, do titubear constante mas
também como busca por auto-desenvolvimento ou complacência: demorar, deixar pra
depois ou adiar é também uma busca por aperfeiçoamento: se acredito na minha
evolução tenho necessariamente que acreditar que na próxima semana terei
condições de fazer coisas melhores do que aquelas que faria hoje, por isso não
deixo para amanhã o que posso fazer depois de amanhã. Essas qualidades
extraordinárias que me colocam entre os melhores nessas artes me fizeram
abandonar esse blog, com esse texto tentarei voltar a escrever, seja por
teimosia ou pura falta de caráter!