Sobre predestinação

Sinais da desgraça satânica
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Sou quase um calvinista! Quase! Pelo menos acredito que Calvino estava certo num ponto crucial, o da predestinação. Deus criou os homens e os predestinou a serem salvos ou condenados. Não importa as nossas intenções ou as nossas obras, faça o que fizer o destino já está traçado. O erro do teólogo foi não perceber a mais óbvia das evidências que diferencia os condenados daqueles que ganharam a piedade do criador: o ronco! Nada entendo de religiosidade e nada sei sobre os herdeiros dos reinos dos céus, mesmo porque não devo estar incluído no grupinho do Senhor; o que me resta então é especular sobre os sinais visíveis daqueles que queimarão no mármore. Não tenho dúvida, pelo menos uma evidência eu descobri: o ronco é um dos sinais do corpo possuído pelo Belzebu. Quem ronca já está no inferno, pois não é possível que esse problema não seja a mais óbvia evidência de como o mal domina o corpo humano. O ronco impede o amor e destrói as relações humanas, afasta os justos e atormenta as almas. Soube disso outro dia, tive que viajar à noite, num ônibus, com uma dessas pobres almas, um sujeito que roncava mais que porco ferido nos olhos. Quatro horas com o estridente sonido do inferno nos meus ouvidos. Só quem já passou por isso sabe o que estou dizendo. Sei que a luz dos céus me incitava a cortar aquela garganta amaldiçoada, e tivesse eu uma navalha abreviaria a desgraça satânica daquele condenado. Deus deu a ideia, mas não deu a navalha; estou preocupado, talvez seja um outro sinal!