Nossas angústias

O tormento da lucidez
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Só existe um sentimento humano legítimo e verdadeiro: a angústia! Todo o resto é passageiro, todo o resto é irrelevante. As dores, as felicidades, as paixões... Nenhuma delas realmente importa. A angústia sim é fundamental, é ela que nos dá existência efetivamente humana, é a nossa companheira de toda uma vida; é ela quem está presente em cada pensamento e em cada ato e momento, sempre nos lembrando da falta de sentido do mundo e da irrelevância da nossa vida. Ela nos transforma naquilo que somos e marca o abismo entre o que queremos e o que o mundo nos permite. A angústia é parida pela responsabilidade que cada indivíduo tem diante das suas escolhas. O peso da liberdade e a responsabilidade pelo seu destino provocam no indivíduo lúcido os maiores tormentos. No seu desespero resignado, nosso amigo Kierkegaard lembrou que o indivíduo mais satisfeito é aquele que não tem consciência de sua situação; na sua filosofia estava escondido o óbvio: o desespero é bom, é o abandono de todas as certezas, é a vertigem da liberdade! A verdade é que toda e qualquer tentativa de se resolver os problemas existenciais são inúteis; mas diante deles há dois caminhos possíveis: se apegar ao conforto de qualquer explicação sobrenatural, ou aceitar que a existência humana é necessariamente sem sentido e ridícula, medíocre porém fantástica, e que a nossa capacidade de zombar dela é que nos faz capazes de suportar o seu peso. Ou nosso reino não é deste mundo ou nosso mundo não é deste reino!