Pequenos companheiros

Os ratos e o fruto proibido
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Felizes são os ratos! Os homens são uns trastes tristes e a culpa é do Adão. Se tivesse mãe, certamente ele seria o maior filho-da-puta de todos os tempos; por causa dele e dos seus erros nós temos que trabalhar para ter o que comer. O homem foi expulso do paraíso, os ratos não; eles não pecaram e por isso são felizes, vivem do trabalho humano e riem das nossas desgraças... Riem da nossa vidinha ridícula, medíocre e sofrida. Por isso eu acredito que deve ter sido Deus quem lhes deu aquelas gargalhadas estridentes que só os tolos não conseguem ouvir. O reino dos ratos é este mundo: só na região metropolitana de São Paulo, uma das maiores aglomerações urbanas do planeta, vivem cerca de quinze milhões de pessoas e mais de 250 milhões de ratos, mais de quinze ratazanas para cada ser humano. São esses nossos pequenos companheiros que nos salvam de viver na mais completa podridão; não fossem eles, seríamos nós que viveríamos no lixo e no esgoto. Seríamos nós que teríamos de nos responsabilizar pelos dejetos da sociedade que construímos. Eles agradecem e retribuem vivendo felizes, roendo a roupa do rei de Roma, fazendo sexo mais de quinze vezes por dia e obedecendo ao criador. Aí é que está a verdade: os ratos comem de tudo menos do fruto da árvore da sabedoria.