Cartão vermelho

Futebol e o lance da condenação perpétua
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Só há algo de realmente importante na vida; o futebol. Tudo o mais é apenas acessório, é desperdício de tempo é entretenimento e distrações que unem os homens para aquilo que realmente importa, o jogo da vida. Só no futebol existe o amor verdadeiro, só no futebol existe o crime sem perdão e a condenação eterna. Há pouco mais de 60 anos começaria o maior julgamento da história desse país. Lembro-me como se fosse ontem, o Brasil ganhava de um a zero do Uruguai na final da Copa do Mundo. Bastava um empate, tínhamos todos a certeza de que seríamos campeões. Os mais de duzentos mil corações que lotavam o Maracanã não imaginaram em seus piores pesadelos que os inimigos fariam dois gols e levariam a taça para Montevidéu. Não houve outra derrota mais dolorida para o povo brasileiro, não houve um peso mais pesado a ser suportado por um único homem. O dois a um não foi uma derrota ou uma tragédia, foi um crime, só os crimes possuem vítima e culpado; e os anos mostrariam que a vítima e o culpado seria o mesmo homem: o goleiro Barbosa. O arqueiro negro da seleção sofreria por cinqüenta anos, até a sua morte, a dor da perseguição, do insulto e do desprezo de todo um país que o culpou pelo crime de ter tomado um gol. Até o dia em que morreu, de tristeza quem sabe, Barbosa suportou como ninguém, todo o gosto amargo de um julgamento e de uma condenação que se repetia todos os dias de uma vida. Sugiro à sua filha adotiva, que o acompanhou na reclusão e depressão nos seus últimos anos de angústia, que escreva em seu túmulo: futebol, alegria do povo!