Convicção, responsabilidade

O preço do sonho do outro
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O professor se divide entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade; Max Weber se esqueceu de dizer isso. Temos idéias e visões de mundo que constantemente entram em conflito com as nossas atribuições. Após dar aulas de teoria política para duas turmas de Administração Pública na Unesp, chego ao fim do semestre com cerca de um quarto de alunos reprovados; não são alunos reprovados por incapacidade de qualquer tipo mas por cederem a um pecado capital: a preguiça. Reprovar alguém é algo triste e desagradável e que por vezes se choca com muitas das minhas idéias sobre educação. Ocorre que a avaliação de um aluno não se baseia apenas em critérios pedagógicos ou simplesmente acadêmicos; não sei se a questão pode ser tratada em termos de ética, mas certamente esta influi nas decisões. A Unesp é uma universidade pública, mantida com verba que chega através do governo mas que vem dos impostos da maioria da população. Crianças pobres que compram pães doces nas padarias ajudam a sustentá-la; mulheres que sequer podem sonhar em ver um dos seus filhos numa universidade e idosos que gastam suas parcas moedas em arroz e remédio sustentam a educação de jovens, quase sempre de classe média, e certamente não aprovariam se soubessem que eles deveriam estudar e não estudam. Eu também não. É triste, mas uma grande parcela dos estudantes não lê o mínimo, sequer tenta fazer qualquer coisa, se abstém de pensar e apresenta trabalhos copiados como se isso fosse normal... A Unesp é uma da mais importantes universidades do país e o curso de Administração Pública formará vários quadros para a burocracia do país, após usufruírem das benesses do Estado serão pessoas que podem ter empregos melhores que a média da população e poderão ter responsabilidades sobre diversas questões referentes à vida de milhares de pessoas, inclusive sobre a da criança que compra doce, a da mulher impossibilitada de sonhar e a do aposentado que tem que escolher entre o alimento e o remédio.