Crime e castigo

A mais cruel das doenças
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A paixão é a mais cruel das doenças, ela sufoca o amor, mutila, decepa e destrói vidas. Ela domina a razão, enceguesse os espíritos e, como um buraco negro, arrebata tudo à sua volta. Das loucuras temporárias que acomete os homens é das mais perigosas, pois é capaz de colocar em risco a vida daquele que sofre sob o seu domínio e o alvo a quem o enfermo escolhe como motivo para a perversa obsessão. Nos casos mais graves a paixão toma de tal forma o corpo e a mente, ou o espírito se quiserem, que o feliz infeliz quer ter domínio sobre o outro quando já não tem domínio sobre si. Nesses casos ousaria dizer que ninguém pode ser condenado por cometer um crime quando o cometeu movido por uma paixão! Mas pode a paixão ser motivo de um crime? E quem comete o crime é ainda vítima? Digo que sim, e falo de paixão no seu sentido mais usual, de amor desenfreado e desmedido, falo do sentimento patológico pelo outro que se confunde com o amor, e afirmo que não se pode e não se deve simplesmente condenar alguém que comete um crime quando movido por uma paixão, pois não se faz justiça quando se condena alguém que não possui controle sobre suas ações. Semanas atrás soube que houve na Faculdade de Direito da USP a simulação de um júri, o tema era também esse: pode a paixão absolver um criminoso? No final das contas a conclusão a que se chegou parece ser semelhante àquelas aqui exposta: o ser humano não é mais do que um brinquedo nas mãos da paixão e existem casos em que o criminoso, movido por paixão avassaladora, merece, pode e deve ser absolvido.


Obs.: podemos imputar às paixões todos os males, mas como lembrou Diderot, mas não podemos esquecer que elas são também a fonte de todos os prazeres.