Lugares e mulheres

Ainda sobre o Rio
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"Não há mulher feia, há mulher pobre! Não há lugar feio, há lugar pobre". Os antropólogos têm razão, beleza é uma construção cultural, mas os economistas deveriam completar a frase, dizendo que beleza é também questão econômica! Riqueza e beleza andam juntas, vivemos no triste mundo no qual só é feio o que não tem dinheiro. Exageros à parte, a frase possui dois sentidos: no primeiro, a beleza é um conceito construído, portanto aqueles que dominam ideologicamente a sociedade também determinam os padrões socialmente difundidos daquilo que é feio ou belo. Não vou falar desse, que exige uma certa heterodoxia sócio-econômica, mas daquele sentido simples que a manicure da esquina conhece. Bairro rico é bairro bonito, bairro pobre é bairro feio; mulher rica se enfeita, mulher pobre se enfeia. As construções arquitetônicas e o paisagismo funcionam na cidade como a plástica, o silicone e os tratamentos estéticos funcionam no corpo feminino. Mas a carcaça enfeitada quase sempre serve pra esconder o conteúdo sem conteúdo, e assim como a moçoila bonita nem sempre é a mais bacana o lugar bonito nem sempre é o mais interessante; quase sempre falta vida, falta emoção, falta fascínio... O Rio de Janeiro maquiado para turistas tenta ser um jardim, mas é uma beleza sem graça, sem charme, sem atrativos; ninguém se apaixona por estátuas de cera em museus. O Rio decadente, do subúrbio, dos botecos, dos morros, da favela e da viela, este sim possui uma vida, talvez feia, mas vida viva.